22 de fevereiro de 2019 | por Felipe Martins
Como o racismo e a intolerância movem a nossa comunicação
Foto: André Pinnola / Espetáculo “Silêncio” – Cia. dos Comuns (2007)

Era o ano de 2001, quando recebemos um convite irrecusável: fazer a assessoria de imprensa para a Cia. dos Comuns – coletivo artístico-teatral, fundado por Hilton Cobra, com o propósito de trazer à cena uma cosmovisão artisticamente negra, especialmente no âmbito das artes cênicas.

Para dar conta da tarefa, percebemos a necessidade de associar ao fazer profissional a compreensão político-social das diversas formas de opressão que o racismo impõe para, de forma quase didática, apresentar as motivações que justificavam a formação de uma companhia de atores e atrizes negros, trazendo para a cena questões relativas à diáspora, a contemporaneidade e, sobretudo, falando para negros e negras.

“É panfletário!”, diziam uns. “É um racismo ao contrário”, falavam outros sobre a audição de seleção de atores exclusivamente negros. Mas trabalhar para a Comuns, instituições como o IPEAFRO, espetáculos como o monólogo Sete Ventos, a Cia. Rubens Barbot Teatro de Dança e tantos outros projetos que convergem para temas relacionados a questões afirmativas e direitos individuais/coletivos nos provam que, tão importante quanto à capacidade técnica, é a escuta atenta e sensibilidade para equilibrar causa e resultados.

Sim, estamos falando de causas e temáticas sociais que são urgentes de atenção (e ação). E a nós, comunicadores, cabe criar mecanismos e estratégias capazes de despertar na sociedade a reflexão e ação necessárias para se combater o racismo, a LGBTfobia, o feminicídio, o preconceito com as pessoas vivendo com HIV/Aids e tantos outros grupos sociais afetados diariamente pela intolerância, a violência racial e de gênero.

Não há receita. Muito menos “cinco estratégias matadoras para fazer uma comunicação cidadã”. Mas, para além do resultado final (as inserções de qualidade nos meios de comunicação), é importante considerar sempre:

:: Empatia é a base de todo o trabalho

:: É importante se questionar e se inquietar diante de situações que afetam o respeito às diferenças

:: É preciso ser parte do todo (não só vestir a camisa)

:: A vivência prática e cotidiana são fundamentais para bons resultados

:: Acreditar que você pode, sim, ser a mudança que deseja ver no mundo