Pesquisa revela que pessoas LGBTI+ buscam informações para enfrentar riscos relacionados a pensamentos e comportamentos suicidas

De acordo com o estudo Smile, Brasil está na frente de Quênia e Vietnã na procura por informações

Liderado pela Universidade Duke, localizada nos Estados Unidos, o estudo SMILE é uma pesquisa sobre saúde mental (incluindo desafios e bem-estar geral) de pessoas que são identificadas como minorias sexuais e/ou de gênero. Ele tem como objetivo coletar dados da maior quantidade possível de pessoas LGBTI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais/Travestis e Intersexo) vivendo no Brasil, Quênia e Vietnã, para documentar os variados desafios enfrentados por eles e entender como políticas públicas, programas e serviços podem ser melhor desenvolvidos ou adaptados para ajudar e dar suporte em cada país.

Além de participar da pesquisa, que é totalmente online, os voluntários também contam com acesso a serviços como o Planejamento de Segurança, que consiste em um material de prevenção para lidar com pensamentos e comportamentos suicidas. De acordo com as estatísticas do estudo SMILE, desde quando o site da pesquisa foi lançado no Brasil, cerca de 33 pessoas acessaram o material. No Quênia e Vietnã, que são os dois países que também integram o estudo, quatro e 33 pessoas, respectivamente, acessaram esse mesmo material.

“Nós criamos o planejamento para a autoinstrução e cuidado de pessoas que correm riscos relacionados a idealização e planejamento suicidas. É uma forma de indicar estratégias de autocuidado, desenho da rede de cuidado próxima e autoavaliação, e, com isso, também conseguir uma orientação para uma listagem de contatos e busca por instituições. Inclusive, indicamos algumas na página principal da pesquisa, para atenção social – mas também para a construção de redes de atendimento em saúde mental. E é por isso que, por meio desse planejamento, buscamos contribuir para que a comunidade LGBTI+ tenha formas de cuidado mais eficientes e de desenvolvimento de habilidades pessoais de autocuidado”, explica a Profa. Dra. Jaqueline Gomes de Jesus, vinculada ao Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e responsável pelo estudo SMILE no Brasil.

Como mostram dados globais, cerca de 52% dos jovens LGBT já se automutilaram (jovens cis héteros: 35%). Pessoas trans apresentam taxas mais altas de problemas de saúde mental do que pessoas cisgêneras LGB; 44% das pessoas LGBT pensaram em suicídio (cis héteros: 26%); 92% dos jovens trans tiveram pensamentos suicidas e 84% se automutilaram. Além disso, as tentativas de suicídio são de: lésbicas (5%); mulheres bissexuais (7%); mulheres lésbicas ou bissexuais com deficiência (10%); gays (11%); homens bissexuais (16%); pessoas não-binárias (36 a 38%); mulheres trans e travestis (42%); homens trans e pessoas transmasculinas (46%); e população em geral (1,2%). Em virtude disso, o estudo Smile está recrutando pessoas LGBTI+ no Brasil para participarem da pesquisa, disponível em https://encr.pw/ttRzO, para documentar e entender como políticas públicas, programas e serviços podem ser melhor desenvolvidos ou adaptados para ajudar e dar suporte as minorias sexuais e de gênero vivendo em seu país.

Violência e saúde mental

Segundo o Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+, o Brasil registrou 273 mortes violentas de pessoas LGBTI+ em 2022. Outra fonte que divulga dados alarmantes sobre violência contra pessoas trans é a Rede Trans (Rede Nacional de Pessoas Trans), que registrou 100 assassinatos de pessoas trans em todo o país durante o ano de 2022, além de 15 suicídios e três vítimas letais da aplicação clandestina de silicone industrial. De acordo com a Rede Trans, 97,3% das vítimas eram mulheres trans e/ou travestis; 77,8% eram pessoas negras; 43,7% tinham entre 26 e 35 anos; 43% residiam na Região Nordeste e metade das pessoas trans assassinadas cuja ocupação é conhecida eram profissionais do sexo. Já entre os anos de 2017 e 2022, segundo levantamento da ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), 912 pessoas trans foram mortas no Brasil. “A violência afeta a saúde mental das pessoas LGBTIA+. Um estudo-piloto que desenvolvemos pela Universidade de Duke, nos Estados Unidos, apontou que mais da metade das mulheres trans e travestis pesquisadas no Brasil (58,3% no total) já teve pensamentos suicidas”, explica Jaqueline Gomes de Jesus.

A Profa. Dra. Angélica B. Silva, vinculada à Fiocruz, explica que o estudo SMILE Brasil tem como objetivo analisar as condições de vida e saúde de 3.500 pessoas que são identificadas como minorias sexuais e de gênero no país. “E para essa importante investigação, que trará benefícios para nosso país e em especial a comunidade LGBTI+, o projeto conta com importantes parceiros, como a Fiocruz e o IFRJ, que contribuem com seu conhecimento e expertise no campo da saúde pública e pesquisa científica”.

Como os resultados do estudo serão comunicados?

O Prof. Ms. Estevão Leite comenta que os resultados e achados sobre o estudo estarão disponíveis quando todos os participantes estiverem cadastrados e tiverem completado a pesquisa. “Temos o compromisso de divulgar resumos dos dados apurados na pesquisa, que serão postados no site do estudo SMILE Brasil (https://brasil.smilestudy.org/) juntamente com os links para todas as publicações que serão produzidas. Além disso, vamos disseminar e comunicar apontamentos para as comunidades dos comitês de aconselhamento local e investidores locais assim que estiverem disponíveis”, explica o pesquisador, vinculado ao IFRJ.

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